Estive em uma favela.
Estive em uma favela?
E descendo aqueles labirintos
– Mais conhecidos por: becos –
Interpelou-me um menino.
Trazia na mão um cabo de vassoura partido.
Perguntava pelo presente de seu pai.
Tinha uns oito anos.
Tinha uns oito anos que não via seu pai?
- Paparápaparápaparápátibum!
Fazia ele, apontando-me o cabo partido.
Queria mandar uma carta pro pai:
“Sr. Responsável...”
Era como referia-se.
“... queira dizer ao Brinquedo...”
Era como referia-se a si mesmo:
Não era gente?
Não se achava gente.
(Ouvia muito da sra. responsável:
Você não é brinquedo, não, menino!)
Só pensava, entanto, no presente.
O presente que o pai nunca deu.
Nunca foi.
(Em que) Nunca (es)tivera.
“... queira dizer ao Brinquedo... onde anda a minha bicicleta?...”
Uma vitrola arranhada na mente:
“Que futuro tem aquela gente toda? (...)
É pau é pedra é fim de linha; é lenha é fogo é foda.”
À minha frente, uma descida
Que não acabava. Que não acabava. Que não acabava.
Ele bate com o cabo no cachorro
Que passava contente.
Caim, Caim, Caim¹...
Ele gemia a própria arma forjada.
“... onde anda minha bicicleta?
Onde anda minha casa?
Onde meu sonho, que você nunca prometeu?”
Ele só queria mandar uma carta pro pai.
Tinha uns oito anos.
Não saberia escrever.
Não saberia escrever?
A carta nunca foi escrita.
“Que futuro tem aquela gente toda...?”
E a vida? E a vida?!
O que será... o que será
Daquela vida?
E o que será da minha?!
¹Caim, do hebraico, significa lança.
*
*Há uma mensagem subliminar aqui!
Esse poema-canção é fruto de meu Subconsciente – se assim posso dizer. Eu não estive numa favela. [Não estive?]
De madrugada [no acorda-dorme/acorda-dorme]; as costas doendo do colchão novo de molas [o outro, de espuma, mais rijo, não estava ‘dando’], que também não está ‘dando’, já desistida da tentativa de dormir, escrevi-o. [Escrever no escuro é uma habilidade que eu desenvolvi muito bem, diga-se de passagem. Decifrar, pela manhã, as letras atropeladas é o hobby que veio no pacote da habilidade desenvolvida! Impagável! Suportar o peso de um Subconsciente consciente é que dá a vertigem...]
11 comentários:
*Há uma mensagem subliminar ali!
Rafaela,
Carta onomatopaica dos becos, com sotaque carioca. Muitos ganem como cães.
Por que deixaram os lobos se assenhorear das colinas?!
Beijos,
Marcelo.
Rafita...me emocionou...
Certo é que os valores humanos andam ultrajando os menores (de idade).
Aliás a todos, não é?
Vale mais fingir que não se vê (e passar por cima)...
Mas vamos pensar que um dia, na escuridão, se faça a Luz.
Mil bjs
Ora moça,seu subconsciente também não seria você?! mas então,adorei esse 'poema-canção',como o chamou,sua crítica é tão apurada,e em parte concordo com o comentário acima,a muitos"vale mais finjir que não se vê",gostei muito do grito do cão,hahaha,enfim,belo moça,belo.
abração pra ti.
ps:Rafa,obrigado por escrever,obrigado.
E essa onda de carta colou mesmo... que coisa boa!!!
... e dizer que essas vidas forjadas, que esse cães barulhentos e suas lanças ferinas - o homem, especialmente - alicerçam seus sonhos em grandes ilusões perdidas.
E o que não é ilusão, né?!
beijo, florinha!
ai, esses meus comentários mais ricoslindos que as postagens... [suspiro] :)
amo!
beijos, corações!
Eu sou tão bocaberta que nem com a tua "dica" sobre a mensagem a bonita aqui tinha se dado conta! hahahahahaha... Gé-zus!
hahahaha
ufa! q bom q conseguiu! é tipo: só os inteligentes veem! hahaha
beijo, lindona
Rafa, querida, lindo o seu texto; emocionante, o seu menino.
Mais uma coisa em comum comigo: eu tenho alguns textos dos meus meninos que conversam com esse seu de agora; depois mostro pra você.
Que Deus abençoe TODOS os meninos. E que os anjos digam amém a esses anjos.
P.S.: desculpe-me pelas demoras, mas você sabe como ando. De qq maneira, estou sempre por aqui e com você no coração.
um beijo,
Cynthia
BRAVO com todas as maiúsculas, RAfa!
Assim: fodástico!
Bela escrita, cara... forte! Eu me emocionei.
É foda mesmo, como já disse o Chico.
bjo bjo, amora.
seus olhos são cheios de lindeza, amada!
beso
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