sexta-feira, 18 de março de 2011

O código da pálpebra



Assisti ao sensacional "Le Scaphandre et le Papillon", uma metanarrativa sobre um homem, Jean-Dominique Bauby, que escrevera um livro [homônimo do filme] durante os 15 meses que passara em um hospital: vítima de uma paralisia física total, conhecida como Síndrome Locked-In.

Mas como ele pôde escrever tal livro é a pergunta iminente. Jean-Do, com a ajuda de Claude Mendibil [sua 'intérprete'], transmitiu cada palavra - letra por letra - usando apenas o olho esquerdo [que era tudo o que ele podia mover]. Como? Um alfabeto de ordem decrescente de utilização na língua francesa fora o instrumento possibilitador de tal comunicação.
Assim, Claude soletrava-lhe e, com uma piscadela, o admirável paciente confirmava a letra desejada. Quando fechava o olho por alguns segundos, significava o fim de uma sentença ou parágrafo. Duas piscadelas também enunciavam quando necessário: era um 'não'.

É ou não para morrer de chorar?!

Apesar de uma condição, por muitos [e, por algum tempo, até por ele próprio], considerada vegetal, Jean torna-se o mais puro significado de viver. O escafandro [associado à prisão de sua doença] e a borboleta [ao seu pensamento - única liberdade] são, pois, o inexorável sentido da vida: a viagem interior, o mergulho em nós mesmos somado ao voo da imaginação, sob a redentora faculdade da razão.



*Jean-Do faleceu poucos dias após a conclusão de seu livro.


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quinta-feira, 10 de março de 2011

Re: a um email carinhoso

Nas águas de março, sob a folia molhada da Lapa, você me veio feito presente de aniversário.
Em poucos dias [noites, madrugadas], escrevemos já alguns capítulos [ine]narráveis de um diário que promete não se fechar tão rápido.
E se eu disser que me apaixonei será precipitado?, mas quem disse que isso deve demandar muito ou pouco tempo?!
Porque você me faz sorrir, me faz sentir, me apreende e me apraz e tanto, tanto mais...
E enquanto nossos lábios se encontrarem e deles desprenderem-se estrelas coloridas, ao vento que varre os tapetes de flores sob nossos pés flutuantes, minha vida será sempre um filme de Almodóvar ou Godard...