segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Amor

Ainda me lembro daquela madrugada. Tentávamos nos despedir, havia quase três horas, no portão de casa. As mãos não se soltavam, tampouco as bocas, ainda pouco íntimas; sedentas uma da outra. Sobre nós, o orvalho derramava seu álgido hálito, e nos aquecíamos no abraço. No intervalo em que os olhos se encontravam, só diziam uma coisa compreendida no silêncio...

Cheguei a empurrá-lo umas duas vezes, para que partisse, enfim. Mas me beijava, delicadamente, o pescoço; arrepiava-me o corpo, mantendo-me junto de si.

O quintal, pouco iluminado pela parca luz do poste da rua, propiciava o clima. Foi quando outra luz - do pensamento - fez-me, de repente, puxá-lo pelo braço e, portão adentro, arrastá-lo ao corredor externo, que conduz à área, aos fundos. Tropeçamos nos vasos de plantas da minha mãe, espalhados no caminho, mas chegamos ilesos. Havia pouco mais de duas semanas que nos conhecíamos e estávamos no corredor escuro da minha casa! - ambos plenos de intenções.

Com ruidosa abertura do tal feltro do seu bolso da bermuda, retirou uma pequena embalagem aluminizada. Mostrou-me. Sorri. Sorrimos. Encostado na parede, me puxou pela cintura e beijou-me com vigor. As línguas misturavam-se; umas mãos abriam zíperes com urgência; outras rasgavam a pequena embalagem... Virou-me; amparei-me na parede em frente e, com espantosa perfeição, moldamo-nos, ali, um ao outro. O orvalho, então, nos bafejava. Era uma noite estrelada...

Foi a primeira vez que nos dissemos amor sem nos olharmos nos olhos.