terça-feira, 20 de dezembro de 2016

interação



o silêncio é inspiração
a palavra é expiração
:
respirar é experiência linguística
poesia é concepção holística

domingo, 18 de setembro de 2016

Presente


Uma fuga perfeita é sem volta é um texto que se tece sutilmente de - um não absoluto suspense, mas - uma história suspensa, na qual se desarrolam imagens, por meio das quais co-criamos (num fio dialogal imaginário) uma outra história em simultaneidade. É uma leitura que se faz - inevitavelmente - com o coração um pouco acelerado e sorriso nos lábios, murmurantes, porque não se contêm ao gesto dos olhos - por vezes, marejados - e que tantas vezes retomam parágrafos inteiros, só pelo puro prazer de admirar sua beleza uma vez mais, e outra, antes de prosseguir.

Esse é o mais recente romance de Marcia Tiburi, uma composição esplendorosa de 600 páginas (não por quantidade, obviamente), na qual Literatura, Filosofia, História e Arte se mesclam em sincronia natural, tanto como panos de fundo quanto em aspectos estéticos da própria obra. Quanto à extensão dessa, divago se não seria ela a metáfora concreta de acontecimentos narrados por um gago? Materialização de suas tão custosas expressões (que são também sentimentos) - problemática do ser e do dizer.

A priori, muitas questões já insurgem no extático mergulho em sua trama: Quem são Agnes, Irene, Ignez e tantos outros? O quê e como lhes vamos atribuindo em nossa construção imaginária, por meio das impressões que o narrador-personagem nos lega? E, por sinal, quem é esse também? Que formas, que corpos - e corpo, aliás, é uma das maiores anamorfoses que há no livro (vide a capa) - vão ganhando, senão meras intangibilidades, mais físicas do que psicológicas?

Início, meio e fim: o primeiro - dizem - toda história deve ter. A meu ver, o processo regressivo (e digressivo) da narrativa faz jus a isso e à suspensão a que me referi; além de alimentar, no leitor, um desejo de que essa história, em contrapartida, nunca termine (eu mesma não o fiz e nem sei quando e se o farei). Quiçá a fuga (não a do fim, mas a que há na trama), como na canção de Paulinho da Viola - "voltar quase sempre é partir para um outro lugar" -, seja um vice-versa, um necessário retorno, um (re)encontro, quiçá...

domingo, 29 de maio de 2016

portal


à incandescência celeste
a pairar
acendo um candelabro de estrelas
cuja luz projeta a eternidade...
     um feixe vacila
     no chão do presente
     outro alça voo
     como aforismo do futuro
descortinando a realidade
silhuetas da existência
entrementes
bruxuleiam no pequeno infinito
de meu olhar

terça-feira, 26 de abril de 2016

Game of Thrones, Renato Russo e o Brasil


O que o Brasil, aquela música do Renato Russo e Game of Thrones têm em comum? Não é só o inverno que nunca chega. E para quem está se perguntando o que o Renato tem a ver com a história, não se trata tampouco daquela canção "mas é claro que o sol vai voltar amanhã...". Então, calma, a gente chega lá. 

Em uma terra distante, chamada Westeros, e na América do Sul, numa terra chamada Brasil, a batalha dos (muitos) reinos se prolonga. Se Stannis Baratheon – com sua frieza e a extrema crueldade de quem lança a própria filha a uma pira – tem por semelhança Eduardo Cunha (fazendo o mesmo com a Presidente e com o povo daqui), mas foi à derrota pela espada de Brienne de Tarth, é obrigatório seguirmos com a esperança de que a nossa Brienne – Juiz Moro? – ainda faça o mesmo. 

É aos domingos que as famílias se reúnem, é aos domingos que se costuma ir ao circo, foi no penúltimo domingo que nem precisamos pagar ingresso (porque já pagamos constantemente a conta) que aquela horda de Filhos da... Harpia entrou na arena, e os jogos de intriga deram no que deram. E agora? A Presidente Dilma – tal qual Rainha Cersei (mas que também possui um tanto de Jon Snow no curriculum) – perde temporariamente o trono (de ferro)? Porque já segue sob xingamentos e cusparadas (opa, o cuspe não foi bem para ela, mas vai lá).

Resumo da ópera: somos todos Tyrion Lannister (exceto pela riqueza): marginalizados, apequenados (pela barbaridade civil), deformados (pela batalha da sobrevivência), mas sem abrir mão de boas doses (não de chopp, mas) de vinho, para encarar essa bagaça. Porque essa história de várias versões, em que nem tudo é ficção e nem tudo é verdade, e em que tantas vezes é difícil distinguir uma da outra, infelizmente nem toda está ou estará nos livros, mas o Norte se lembrará... o Sul, o Sudeste, o Centro-Oeste e o Nordeste também. 

Quiçá nossa Danaerys Targaryen esteja bem perto, porque já não há São Jorge ou fé que deem conta da situação. E que, com muita resistência, com a espada nas mãos e a canção de Renato, cantada como um hino – tão mais pertinente nestes “dias desleais” –, sigamos, pois; e os maus que se cuidem e atentem ao “sopro do dragão”.