sábado, 1 de julho de 2017

inacessível



estendo na madrugada
os meus pesadelos
como lençóis de Orfeu
para construir pórticos
— horizontes [in]visíveis —
onde os buracos negros
da minha alma
não cabem no mirar...

esse mundo paralelo
que eu engendro
é compensação à ignorância
inveterada de mim mesma
sob uma irredutível realidade
cujas distorções, inevitáveis,
me impelem ânsia e medo...

no escuro, não há espelhos.
com as lentes do criar
feito sondas
captando imagens
dos desconhecidos
territórios do meu corpo
mantenho fechados os olhos:
escrever é sonhar