terça-feira, 30 de agosto de 2011

talvez

talvez o que escrever
revele-se bonito e não
mais uma folha morta;

talvez queira dizer
que as árvores são muito mais
que plantas: são dádivas;

talvez já saibam disso
e eu tenha, assim, gastado
uma dadivosa vida;

talvez, no entanto,
eu nem quisesse escrever,
dizer ou [ter de] viver...

- talvez perder a vida
não seja assim tão triste
quanto pensá-la perdida.

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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Melancholia"


Duas irmãs. O casamento de uma delas, "bancado" pelo riquíssimo cunhado. Conflitos familiares ao longo da festa. Melancolia. Traição. Separação. Melancholia. A Gruta Mágica. O Fim do[s] mundo[s]. Assim se resume - sem menoscabar, mas por medo de tocar o brilhantismo intangível e para evitar desvelo - o último longa, obra-prima expressionista, do cineasta Lars von Trier.

O cenário é praticamente único: um castelo europeu - um "mundo" [de luxo] onde os dramas se arrolam sitiado por realidades praticamente ignoradas; a espera da espetacular passagem de um planeta azulado [Melancholia] pela Terra; o medo de Claire de morrer e o descaso de sua irmã recém-casada-separada, Justine, por viver.

A música que permeia todo o filme também é única: Tristão e Isolda, de Wagner - a mais perfeita expressão de angústia e sei-lá-mais-o-quê; capaz de dublar quaisquer diálogos e arrebatar os mais insensíveis ouvidos.

Na trama plena de simbolismos, o que une e sugere a ideia de mundos está na manifestação do interior das personagens refletida no espelho do mundo exterior. Ou seja, Melancholia, Terra e a Gruta Mágica [abstração do pequeno filho de Claire para salvarem-se do inevitável Fim] são, metaforicamente, eles mesmos.

O casamento - início de uma nova vida - é o primeiro dos Fins, pois que não dura mais que um dia. A constatação do possível choque do planeta azulado com o planeta azul, a Terra, é o maior deles. Eis [numa premissa um tanto pessimista] a inescapável Melanc[h]olia - mal-estar de uma civilização sem forças nem muitas razões para [sobre]viver - a engolir o planeta; dando-se, pois, o Fim do Mundo.


Assista ao trailler aqui.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

poesia líquida


nunca aprendi poesia.
nunca aprendi
lapidá-la:
poesia não é pedra;
poesia é água.
água
com que lavaria as mãos
e que deixaria, por si,
em uma superfície
secar-se...

mas ela não seca.
poesia é mar.
poesia é mágoa.
água minha:
poesia lágrima.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

a culpa é da Eva!















e da clareza, então, desfez-se a luz.
a mulher pura dessacralizou o Éden.
Noé salvou animais - não é?
o tal do Christo se rendera à cruz.

pobre Joana D'Arc: fogo em vida.
os índios foram, só, civilizados.
Bomba H: um grande cogumelo irado.
Ditadura: 20 'dias' de novas medidas.

o Trade Center era so much tall.
o Tsunami, um fenômeno mal!
o Haiti urgia mudanças - sim?

e o mundo inteiro era um gran jardim.
mas um pedaço, apenas, da maçã...
e a humanidade nunca mais foi sã.