Era meu esse rosto é uma viagem [não só aquela que compete ao leitor], um percurso, uma travessia: o título, com o verbo no pretérito imperfeito, já remete a um deslocamento; a um fato não encerrado.
A trama é desenvolvida por digressões do personagem-narrador, e a relevante presença de parênteses [nos quais deveriam estar] delimitam, em vez disso, o suposto presente.
Ouso pensar que este romance possui relações com outros de Marcia [possivelmente, um seu estilo, já bem instaurado], tais quais Magnólia [a personagem diante de gavetas], A Mulher de Costas [aquela que busca o próprio rosto] e mesmo O Manto [o recolhimento de histórias]. Enquanto lia, também lembrei de Leite derramado, de Chico Buarque, cujo personagem revive a vida entre emaranhados de memórias.
Os textos de Marcia sempre me reportaram à Clarice, e este, ao Água viva e sua intangibilidade do agora. Elementos como família, mortes, fotografias, infância [re]constroem a herança de um passado; compõem um tempo psicológico num retratar [!] de lembranças.
O avô é uma das figuras mais representativas, talvez pelo caráter ancião masculino, com o qual o narrador melhor se identificava e ia aprendendo, enquanto menino que desconhecia questões sobre a vida [e, principalmente, a morte]. A recorrência da expressão "nonno, espera" sugere uma busca ininterrupta desse personagem pela [sua] história, que, tantas vezes, se perde em fotografias mnemônicas...
A escrita tiburiana é linda: em cada linha, uma descoberta, uma metáfora, um mergulho profundo. Suas palavras, até nas informações mais singelas - como um notável trocadilho entre Caxias do Sul e caixa azul [p. 94] - denotam "seu domínio sobre o mundo", este a que chamamos literário.
Um comentário:
Obrigada, lindona. Coloquei no twitter e no Facebook. beijos gratos pela delicadeza da leitura. E a percepção da caixa azul foi linda. Só uma poeta como vc pra perceber. bjs
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