– Sim?
– Alô, Ana?
– Não. Você deve ter discado errado.
Clic.
– Pronto.
– Oi! Sou eu de novo. Esse telefone não é da Ana?
– Não. Como eu disse: você deve ter...
– Mas é que eu preciso muito falar com...
– Olha só...
– Fernanda!
– Quem?
– Eu, Fernanda.
– Uhum. Veja bem: aqui não é a casa da Ana; nem da Joana. Eu não conheço nenhuma Fernanda, portanto...
– Qual é o seu número?
– Número de quê?!
– Do telefone, ué!
– Bem, é esse que você discou, que, por sinal, NÃO é da Ana!
– Sim, mas eu queria confirmar o...
– Olha, eu tenho mesmo que desligar, viu?
– Não! Por favor.
(Silêncio)
– Alô? Você ainda ‘tá aí?
– ‘Tô.
– Ah, então...
– Ôôô... Fernanda. É Fernanda, né?
– Isso.
– Então, Fernanda... Na verdade, eu não gosto muito de telefone, sabe? E uso porque é uma necessidade...
– Sim, sim, é!
– ... como eu ia dizendo, é uma necessidade! E, no presente momento, estou um tanto ocupada...
– Hum. E... você ‘tá fazendo o quê? Desculpa, como é mesmo o seu nome?
– Bem, eu não lhe disse.
– É, por isso pergunto!
– Sim, mas é que eu ‘tô querendo desligar, uma vez que não tenho muito – ou nada – que lhe falar. Cê me desculpe, mas...
– Eu entendo.
– Entende?
– Entendo. Não tem por que ficar falando com uma estranha, né?
– Bem... não é isso. Mas... tenho afazeres.
– Tudo bem.
– Mesmo?
– Sim, sim, sem problemas.
– Bem, então... acho que é hora de desligar, certo?
– Certo.
– O-k!
– Ok.
– ...Você ficou tão monossilábica, de repente, Fernanda.
– Fiquei?
– Sim, viu só?
– Ah, me desculpe. É que você não tava muito afim...
– Não! Eu disse que tinha afazeres.
– É, isso mesmo. Portanto, desculpe de novo. Eu vou indo. Até mais.
– Olha! Você já pensou?
– Em quê exatamente?
– Na verdade, não haverá até mais.
– Não?
– Não. Você não ligou errado?
– Liguei.
– Então, o risco (e repare: não digo risco de forma negativa, viu?)... mas é pouco provável que você torne a me ligar. Você não acha?
– De fato.
– Pois é...
– Mas eu quis confirmar o número; foi você quem me disse que...
– É verdade, me desculpe também.
– Não há de quê.
– Não, me desculpe mesmo!
– Ok, está desculpada então.
– Fico grata.
– Bom, agora vou deixar você com seus afazeres, sim?
– Imagine, Fê. Eu posso até deixá-los para mais tarde.
– Não, não! Não se incomode comigo.
– Quê isso? Não é incômodo nenhum! Eu fui, realmente, grosseira.
– Não, você foi sincera.
– Sim, sincera, sem deixar de ser grosseira.
– Já que você insiste...
– Insisto, insisto. Então, você me perguntou o que eu estava fazendo...
– É, perguntei.
– Pois é; não estava fazendo nada, não.
– Mentira!
– Verdade! É que, ‘cê já sabe, não gosto muito de telefone...
– Uhum.
– Daí, como, a princípio, era uma ligação... extraviada, digamos...
– Sim.
– Olha, você ‘tá sendo monossilábica de-no-vo.
– Juro que não é de propósito!
– Mas ‘tá parecendo.
– Me desculpe, não é mesmo. É que preciso, realmente, falar com a Ana. E já que aí, definitivamente, não é a sua casa, eu ia confirmar o número na agenda, para...
– Sim, sim! Ah, você não quer que eu te ajude?
– É... ajudar? Em quê?
– A conseguir falar com a Ana!
– Hum... não sei bem como você poderia me ajudar com isso.
– Posso, posso! É só você me dizer o sobrenome dela. ‘Tô com o computador aqui na minha frente: posso pesquisar nas listas amarelas.
– Olha, é muita gentileza da sua parte. Muita mesmo. Mas eu tenho o número na agenda. Só preciso, de fato, confirmar...
– Ah, mas tenho certeza de que o computador seria muito mais rápido!
– Mulher de tecnologias, é?
– Pois é! Gosto desses lances pós-modernos.
– Notei, notei.
– Ah, a propósito, você perguntou meu nome! Eu me chamo...
Clic.
– Nossa! Que mal educada.
21 comentários:
pq tô avaliando a possibilidade de postar uma que me aconteceu dia desses... rs aiai.
=*
Rafaela,
Que falta de tato e educação isso das pessoas se interromperem em seus nadas-a-fazer.
Um beijo.
rs e não é?!
cada louco com sua(s) loucura(s)!
beijo, querido
Rafaela,
Esse texto é Luis Fernando Verissimo?
Massa!
Beijo imenso, menina linda.
Rebeca
-
Rê,
é veeero! digo: não é do verissimo, é meu. mas há, realmente, uma influência do seu estilo de crônica, né?
lembro que li umas assim, baseadas em diálogo somente... gostei, e 'incorporei', pois. rs
beijobeijo
obrigada pelo olhar atento
Adorei esse diálogo, muito bom.
Fiquei pensando que dificilmente vou conhecer pessoas assim, não consigo mesmo interagir pelo telefone rs
Beijo
você e suas surpresas, 'fa-lóri!
prazer te ler, sempre-sempre, em-que-estilo-for...
e por favor:
POSTE a "uma" que te aconteceu dia desses! (fiquei curiosíssimaaaaa! rsrs)
bjo-bjo, amora.
amo,
tatá.
eu também sou meio 'antisociety' ao tel! rs
mas ainda supero... =)
beijobeijo
.
Lindeza,
a recíproca é altamente verdadeira!!
AMO!
beijão
*rsrs eu te conto, quando te encontrar. cada um q me aparece, q só rindo mesmo...
Rafa kkkkkkk adorei!
sua criatividade vai longe... sua escrita... suas palavras!
Parabéns, amiga!
(Luciana Ferreira) (L) :*
Rafa, diálogo bom pra colocar em peça. Pensa nisso: lembra que já falei pra que achava sua escrita bem legal pra por em teatro?
bjs.
linda lu,
minha maior inspiração são vcs: me trazem a luz da alegria. =)
beijo, amora
volta sempre!
.
linda cy,
lembro-me, lembro-me!
será q dá pé?! preciso achar uma âncora, no entanto... ;)
beijobeijo
(L)
Nossa,sei que é meio dãh,mas é muito legal isso,esse jogo do diálogo que você fez,me deu até uma idéia,hehehe,cara,eu só tenho a agradecer por ter te "encontrado" nesse grande espaço que é....bem apenas é,e agradeço pelo carinho,pela atenção e pela presença,enfim,bela.
abraço !
Alexa Meade pinta pessoas e objetos de uma forma real e transformada. Para entender melhor, só vendo e depois diga se não é uma coisa diferente de tudo aquilo que você já viu.
'Ao invés de pintar um quadro de representação em uma tela plana, Meade pinta a imagem de sua representação diretamente em cima de seus súditos tridimensional. O tema e sua representação se tornam uma mesma coisa. Essencialmente, sua arte imita a vida em cima da vida.'
Espero que goste:
http://www.flickr.com/photos/alexameade
Beijo imenso, menina linda.
~*Rebeca*~
-
chuchu!
adoro quando dou ideias: sou útil! =)
melhor, depois, é poder lê-las... quero, tá?
beijobeijo
Pois, dia desses, um senhor ligou para o meu CELULAR e eiso incrível diálogo:
- Oi, chama o Zé Roberto.
- Oi, o senhor ligou o número errado...
- tenho certeza que luguei o número certo!
- Tenho certeza que eu não sou o Zé Roberto!
=)))
hahaha
eu sou vítima disso!
o pior é qdo o outro ainda puxa assunto... 8-)
era esse que ia contar aqui, mas deixa pra lá.
beijooo
Rafaela,
Amei essa crônica e parabéns pela forma que conduz esse diálogo.
Beijo imenso, menina linda.
Rebeca
-
Nossa, que criatividade genial! Adorei, Flor!
Frequentemente acontece coisas assim comigo, mas no entanto, eu não dou papo para estranhos no telefone. Hahahaha.
Beijos, minha linda!
o pior é que eu dou, flô! >.<
mas, claro, depende do meu humor! hahaha
beijobeijo!
Oi, Rafinha linda, tô eu aqui te futucando.....rrs
Bem, em primeiro lugar, amei o diálogo...Podia ter mais grosserias de uma lado pra ficar engraçado...rsrsrs
Em segundo, vc me fez enxergar nele. Eu não tenho paciência pra ligações erradas...Definitivamente...
Terceiro, vou roubar sua idéia e postar um q já tinha bem parecido com o seu.
Quarto: EU INVEJO VC, SABIA ? rsrsrs..
TE ADORO, BJUX, FAH! =*.*=
hahahaha
inveja boa existe entre amigos/admiradores! ;)
venha sempre, nega!
beijo
love u!
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