Amanhecia. O céu era branco; havia neblina; a chuva fina de final de inverno acompanhava um sem-número de cidadãos, que, cedinho, iam para o trabalho; as buzinas, quais despertadores, a reverberar nas ruas cinzas, próximo ao Maracanã, onde dezenas e dezenas de pessoas caminhavam e corriam, cíveis _e impassíveis.
Ainda que fechada, pela janela _um tanto baça pela chuva a lhe escorrer_ ela era vista. Em contraste àquela movimentação urbana, ela arrumava, calma, a cama. Esmeradamente. Apanhava cada ponta da coberta de uma cor indefinida e dobrava, dobrava... lenta.
A alguns passos dela, três pequenos, de idades bem aproximadas, a observavam com a passividade de felinos preguiçosos à espera de uma oferta maternal de leite. E ela: a dobrar, a dobrar...
Abre-se o sinal. Pela janela baça do ônibus, eu vi: a coberta de uma cor indefinida _já tão suja_ junto a folhas de jornal e papelão; o olhar grave dos [prováveis] filhos _filhotes famintos_ sob a marquise, a protegerem-se da chuva aguda... Mais um dia na calçada do Maracanã; por passantes corredores governantes deus (?!)... como se não fosse vista.
Ainda que fechada, pela janela _um tanto baça pela chuva a lhe escorrer_ ela era vista. Em contraste àquela movimentação urbana, ela arrumava, calma, a cama. Esmeradamente. Apanhava cada ponta da coberta de uma cor indefinida e dobrava, dobrava... lenta.
A alguns passos dela, três pequenos, de idades bem aproximadas, a observavam com a passividade de felinos preguiçosos à espera de uma oferta maternal de leite. E ela: a dobrar, a dobrar...
Abre-se o sinal. Pela janela baça do ônibus, eu vi: a coberta de uma cor indefinida _já tão suja_ junto a folhas de jornal e papelão; o olhar grave dos [prováveis] filhos _filhotes famintos_ sob a marquise, a protegerem-se da chuva aguda... Mais um dia na calçada do Maracanã; por passantes corredores governantes deus (?!)... como se não fosse vista.
10 comentários:
Tão cegos são os homens... e ainda há os que vangloriam-se da própria cegueira. Triste realidade, Rafa. E que fique Caetano: "Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome".
é foda!
verdade, Marj...
ei, q bom q voltou! q bom q apareceu de novo por lá! besos
Amei! Crônicas...
É...
Se não vêem, quem sabe no grito, não?!
Bjs
Que sensibilidade a sua...
E que falta de humanidade
daqueles que, com mais eficiência,
poderiam mudar esta lamentável realidade!
Estes contrastes do Rio
doem-me na alma.
A ostentação dos que vivem
às margens da Lagoa
e a fome dos que se ajeitam
sob marquises...
Um beijo, Rafa!
Ao aguardo de governantes melhores,
doce de lira
Rafaela,
Gostei muito da sua dicção nessa prosa poética. Imagem, ritmo, sensibilidade.
Parabéns!
Beijos,
Marcelo.
Bonita descrição de uma situação quase que invisivel (infelizmente)...
Bjus.
Que crônica linda!Apesar dos fatos...parece que o tempo parou nessa imagem...muito bem construída...obrigada pela sua carinhosa visita, e saiba que sempre passo por aqui também...escreves com muita delicadeza e com grande propriedade...são elementos que fazem parte dos grandes escritores...e é claro que farei uma tattoo pra você, quando nos encontrarmos...beijosss e até mais.
oba! \o/
obrigada pela visita sempre gentil, belíssima!
beijos
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