quinta-feira, 14 de maio de 2015

palco


reencenar
a cada dia
aquilo que falhou
aquilo que foi ruim ou bom
repetir
de um jeito diferente
os erros e os acertos 
a tentativa de sair mais cedo
para o trabalho
o desejo de voltar cedo também
para a casa
a roupa gasta, mas com um sapato novo
o perfume de ontem e anteontem e antes de anteontem
sobre a pele de hoje
o penteado, a maquiagem
sobre alguma cicatriz
[ainda que indeléveis quaisquer cicatrizes]
redizer
o bom dia, o boa tarde, o boa noite, o feliz aniversário, o feliz dia das mães, dos pais, dos avós e das [crianças
refazer
aquele feijão e o arroz
sem queimar, sem salgar demais ou de menos
voltar
à mesma paisagem que compôs
aquela foto sobre a cabeceira
a paisagem, que é já outra
a companhia, que é já só lembrança
e o sorriso, que é já menos branco
reescrever
aqueles versos
outrora escritos por alguém
pois que todas as palavras não são mais que ecos
e nem mesmo o silêncio as contradiz
posto que é reprodução do mesmo cansaço à voz
reencenar, pois,
todos os dias
uma nova e mesma vida
ao inevitável e imprevisível
cerrar de suas cortinas.

Um comentário:

Rafaela Figueiredo disse...

Marquitos,
obrigada pela leitura, sempre generosa.
não sei se esse cabe na temática, mas posso repensar...

bjo grato