sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sobre Muito Pouco



Às vezes sou plena poesia.
Poemo-me inteira: frente e verso.
Corpo que não esvazia
Palavra que, porém, transborda em si
Com toda a autonomia.
E não diz nunca porque quero!
Nem tampouco porque sinto
Ou porque vejo ou porque minto...
Perde-se por trás dos olhos
Sob os óculos escuros;
Pelas ruas que se movem
Sob os passos sem cadência;
Pelas máquinas famintas
Sob fulcrais barulhos;
Pela onomatopéia dos relógios;
Pelo vôo silencioso d’um mosquito;
Pelas asas de um avião caído;
Pela falta de um ente,
Sob os pés, adormecido;
Pela conta já vencida e ‘inda não paga;
Pelo morador de rua invisível
Sob as fossas faciais da sociedade;
Pelo lixo exagerado
Do consumo insustentável;
Pelas pedras polidas ou pelas pedras brutas;
Pelos pés dos manequins
Tão distintos dos nossos;
Pelo gato no telhado
Sob a lua mais altiva;
Pela sedução do mar
No abismo do horizonte;
Pelo jogo, pelo amor
Ambos já tão perdidos;
Pela estrela, que ilumina
O breu de nossos destinos;
Pela vida, pela rima
Pela ausência que acompanha;
Pela coisa, pela dúvida
Pela reticência aguda;
Pelo eu, pelos loucos, pelos poucos
Sob a imensurável vastidão dos muitos.

3 comentários:

Tê disse...

Somos todos muitos, Rafa!
Lindo poema!
Bjks

Anônimo disse...

Rafa,
que coisa mais linda!!!
Beijo
Marcia

Anônimo disse...

Minha querida, Rapha, que lindo!
Suas palavras são como água na hora da sede em pleno deserto. Poema completo.
Bjos! Feliz Dia dos Namorados!
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