sexta-feira, 12 de março de 2010

Comentando o "Mago"



"Eva deu um passo em frente. Detém-te, disse o querubim, Terás de matar-me, não me deterei, e deu outro passo, ficarás aqui a guardar um pomar de fruta apodrecida que a ninguém apetecerá, (...) estamos no meio de um deserto que não conhecemos, (...) onde durante estes dias não passou uma alma viva, dormimos num buraco, comemos ervas, como o senhor prometeu, e temos diarreias, Diarreias, que é isso, perguntou o querubim, Também se lhes pode chamar caganeiras, o vocabulário que o senhor ensinou dá para tudo, ter diarreia, ou caganeira, se gostares mais desta palavra, significa que não consegues reter a merda que levas dentro de ti, Não sei o que isso é, Vantagem de ser anjo, disse eva, e sorriu."

SARAMAGO, José. Caim. SP: Cia das Letras, 2009. p.24-5

Não é novidade que José Saramago, com seus temas sempre tão - maravilhosa e diversamente - políticos e mais uma gama de características e qualidades literárias peculiares, é um dos maiores escritores de Língua Portuguesa; ainda vivo!

Foi com "As Intermitências da Morte" que dei meu primeiro mergulho para a vida pós-saramago. É fato que tive o grato conselho de uma maisquequerida amiga, quando me preparava para tal: "Olha, esse 'maluco' desconhece travessão parágrafo dois pontos e qualquer sinal (usual) indicativo de discurso direto em seus livros. Portanto, vá com calma! Ou quererá matar-se (ou matá-lo, literariamente) tão logo em suas primas páginas!" (Foi mais ou menos isso. rs). Conselho a que chamei grato, uma vez que seria enorme surpresa (para uma, à época, iniciante de um curso de Letras; à qual, talvez, poderia ter causado certa repugna (ou trauma) para com o, então ignoto, escritor), mas que a tornou, há pouco mais de 3 anos, sua embasbacada e intrépida leitora. E foi a partir disto ("Todos os nomes", "Ensaio sobre a lucidez", " = cegueira", "História do cerco de Lisboa" e, atualmente, "Caim") que fiz botes, dos mais agradáveis, as supremas vírgulas saramaguianas (ou como queiram) com que deslizo, hoje, deleitosa, por aquelas linhas-correnteza.

(...)

Queria compartilhar centenas de trechos dele, aqui, mas o bom senso compeliu-me a evitá-lo e deixei, tão somente, um, que ratificasse a minha imensurável loucura por este escritor cuja literatura - em seu discurso, mais do que em seus enredos, ouso - faz-me crer que Gênio não é aquele que apresenta suas ideias à nossa (mera) realidade, mas o que nos conduz a esta, através daquelas, e a transforma.
É como vejo a língua-saramago.

*obrigada, amiga maisquequerida, Ju, por 'Caim' também! (L) =)

7 comentários:

Bel Faria disse...

Rs.. Versatilidade interessante por parte de Saramago!
Vergonhosamente eu ainda não li nenhum livro dele, embora esteja a procura de Ensaio sobre a cegueira. Já Vi Caim na livraria e pretendo lê -lo . Se eu gostar, também terei minha coleção de leituras de Saramago e dou créditos a você, por ter aguçado minha curiosidade cada vez mais! ;) Hahahaa.


Muito interessante o texto do início e seu ponto de vista sobre ele! Se a identificação também trouxer dúvidas soubre ir para o inferno ou não, então... Xiii! Rs

B-jos, Flor!

Marcelo Novaes disse...

Rafaela,




O homem conhece...




Capice?!



;)







Beijo.

sopro, vento, ventania disse...

Eis que no nome deste, RAfinha, faz a magia do tempo curar: "Sara, Mago, com seus múltiplos significados:
"o mago que sara"
"sara, mago, para existir, para existirmos..."

Lindo, qq tudo dele, é muito. Adorei, querida.
Beijos,
Cynthia

sopro, vento, ventania disse...

O seu silêncio...
O seu blog espera por você e quem gosta de você também.
beijo grande,
Cynthia

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

amados, quietinha vou, mas com vcs no coração! ;)
obrigada - sempre!

beijobeijo

Anônimo disse...

Ai, ai... sabe que eu também amodoro Saramago???

Preciso ler mais, mas tô tão tão tão sem tempo que fico muitomaisquefeliz de encontrar esses fragmentos milimetricamente escritos para nos deixar pensando anos luz de distância.

Lóviu, florinha.

Saudade

sopro, vento, ventania disse...

um beijo amigo e silencioso pra você, pra não interromper o seu silêncio, ok? fique sempre-sempre bem, querida Rafa.
bjs