terça-feira, 22 de maio de 2012

Era meu esse rosto - Tiburi, Marcia (2012)


Era meu esse rosto é uma viagem [não só aquela que compete ao leitor], um percurso, uma travessia: o título, com o verbo no pretérito imperfeito, já remete a um deslocamento; a um fato não encerrado.
A trama é desenvolvida por digressões do personagem-narrador, e a relevante presença de parênteses [nos quais deveriam estar] delimitam, em vez disso, o suposto presente.
Ouso pensar que este romance possui relações com outros de Marcia [possivelmente, um seu estilo, já bem instaurado], tais quais Magnólia [a personagem diante de gavetas], A Mulher de Costas [aquela que busca o próprio rosto] e mesmo O Manto [o recolhimento de histórias]. Enquanto lia, também lembrei de Leite derramado, de Chico Buarque, cujo personagem revive a vida entre emaranhados de memórias.
Os textos de Marcia sempre me reportaram à Clarice, e este, ao Água viva e sua intangibilidade do agora. Elementos como família, mortes, fotografias, infância [re]constroem a herança de um passado; compõem um tempo psicológico num retratar [!] de lembranças.
O avô é uma das figuras mais representativas, talvez pelo caráter ancião masculino, com o qual o narrador melhor se identificava e ia aprendendo, enquanto menino que desconhecia questões sobre a vida [e, principalmente, a morte]. A recorrência da expressão "nonno, espera" sugere uma busca ininterrupta desse personagem pela [sua] história, que, tantas vezes, se perde em fotografias mnemônicas...
A escrita tiburiana é linda: em cada linha, uma descoberta, uma metáfora, um mergulho profundo. Suas palavras, até nas informações mais singelas - como um notável trocadilho entre Caxias do Sul e caixa azul [p. 94] - denotam "seu domínio sobre o mundo", este a que chamamos literário.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

de posse-e-dom

passeios em pro
fundos
mares - nossos -
podem surpreender
com inusitada transparência:
coisas já há muito
naufragadas e esquecidas
mostram nexo
e função
em meio à [con]fusão
de águas, algas...
como foto-grafia revelada
de si para si
- insight a invadir o escuro
d’alma...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Respostas




Eu quero que o nosso caso seja sustentado por mais coisas que só o amor. [É humano não se contentar com o que tem.]
Sei que respeito, companheirismo, sexo gostoso contam. Mas objetivos similares entre duas pessoas distintas tb.
Sim, já admiti a possibilidade de dizer 'sim' ao pedido de casamento; ter, quem sabe, filho; até a loucura de morar junto!
E é por isso mesmo que penso, penso e penso nos dias "chameguentos", mas tb nos dias de "eu não existo para vc, nem vc para mim. e não me liga!".
Gosto de ter vc. Agradeço por ter vc. Por lidar com minhas TPMs, melancolias, choros, chatices etc.
Gosto de ter seu calor na cama, mesmo com o pouco espaço que me cabe.
Gosto de te ver caindo, literalmente, no sono [aquela sacudidela de quem sonha que está despencando].
Gosto de fazer sua barba, mesmo vc reclamando a cada fio que puxo sem querer.
Até tô aprendendo a gostar dos cravos nas costas. [Espremer não!]
Não gosto que reclame de algumas das minhas roupas, mas entendo. Eu poderia reclamar de todas as suas; entenda tb.
Não gosto do fato de vc justificar as faltas com "eu faço tal coisa coisa por vc". [Sendo que não faz aquilo que, profundamente, te peço...]. Faça por si!  
Me irrito com vc sempre pedindo para deitar no meu colo. Pedindo tudo.
Odeio e me sinto mal pelo fato de, ultimamente, lembrar e depois me esquecer, não comentando, dos nossos aniversários. Será acomodação? Sou horrível mesmo... Mas não são nossos todos os dias?!
Observo suas gentilezas e sei da obrigação, ou melhor, retribuição pelas mesmas. Mas isto tem de ser voluntário. [Ressaltando: não peça! Nem espere o mesmo que fez. Outras coisas tb podem equivaler; mesmo que sejam menores ou até maiores].
Também nos quero longo tempo juntos.
Me ajude? Tenho certeza de que preciso muito mais do que vc.
Te amo. E declaro, sim. E não deixemos de acrescer razões a isso. E que vc não desista de mim, nem eu, de vc.
E eu não ligo picas para os tabus, maus olhares e os "não-me-toques" alheios sobre tudo isso.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

"O meio do avesso"


Não creio que seja a pessoa mais indicada para falar de minha própria... 'obra': meu grau de egolatria é muito baixo para isso. Mas o nível de alegria é alto e a propaganda se faz necessária!

Ia fazer uma ligeira propaganda também da editora e tal, mas estou meio revoltada: minha capa não saiu bem o que eu esperava [meio escura e com imagem mal editada], todavia vamos ao conteúdo - que interessa.

Depois de mais 4 anos sonhando e organizando um espaço [além blog e caderninhos] onde eu pudesse deixar registrados os devaneios-desabafos-desastres... enfim, venho anunciar o 'lançamento' d'o meio do avesso, meu primogênito livrinho de poesias.

Para quem já sabia dele, a espera acabou; para quem 'tá sabendo agora, eis um pouquinho: 

"Foi de tanto ler poesia que Rafaela Figueiredo ficou assim: essa inteligência intensa pintada com lírico deboche. Um tanto de juventude e aquela coragem de publicar livro de poesia num mundo que conta apenas o peso morto do dinheiro; um tanto de maturidade e a liberdade de rimar o cotidiano com as dores de "minh’alma sombria” – que ora aparece também como “minh’alma desnatada”  , eis a pessoa poética que é, no espírito desta letra que ora se apresenta aos leitores. (...)"  

[Trecho da orelha que, com muita gentileza, a linda da Marcia Tiburi me deu!]

Bem, meu avesso traz, pois, destas coisas, que, muitas vezes, só o silêncio escuro [do meio, do in] pode dizer. Mas traz também cores, dos dias mais leves, e amores, não só de rima com dores.

Poesia não sustenta a vida, mas alimenta uma alma. Por isso, o preço 'tá bacana; não seja mão-de-vaca, hein?! [hahaha]

Maiores informações: omeiodoavesso@gmail.com 


quinta-feira, 3 de maio de 2012

simbolista



em meu peito ecoam mil e um rumores
— mordazes, doces; frescos, miasmáticos —
como chuva, a carregar os dissabores
resolutos de frustrados sóis sabáticos;

vastos, como as noites invernosas,
em que todos os murmúrios são(-me)
incensos orvalhados sobre as rosas
de jardins particulares em fusão.

é quando o extremo tédio de meus dias
faz do mundo o mudo esboço
de fluidos e ermos sonhos e agonias...

e é tal como se agarrassem-me o pescoço
as garras assassinas da poesia
com os devidos versos num endosso.